Não dá para deixar por isso mesmo o que Lula pensa e diz sobre a farra das passagens aéreas patrocinada com o dinheiro público. Ao dizer que as reações contra a revoada eram "hipocrisia" e que isso acontece "desde que o Congresso é Congresso", o presidente despiu-se do cargo e vestiu a roupagem de um reles e contumaz aproveitador das desigualdades sociais que o poder oferece.
Revelou-se indiferente a um enorme problema moral, como se a quebra de ética não fosse uma das únicas faltas que tem merecido condenação na Casa do Polvo que ele, quando deputado, tão pouco freqüentava. Sua ausência em plenário e nos corredores da Câmara, no entanto, foi suficiente para que identificasse, já naqueles velhos tempos, pelo menos "300 picaretas".
De lá para cá, com a blindagem que a governança proporciona, o hábito de encher-se em demasia virou banalidade. Assim é que, para quem nos governa(?), locupletar-se dos cofres públicos não é transgressão, não é imoralidade.
Meter a mão, bolinar as burras públicas para financiar viagens de sindicalistas é, mais que amoral: é imoral. Lula deixou claro, muito claro que é membro duro e convicto da legião daqueles que acham que a moral e a ética não passam de um paiol de precauções que se deve tomar para transgredi-las.
É daqueles que pensam que a moral, assim como o exercício de governar um povo despolitizado, não é outra coisa do que senão um conjunto de frases de efeito para júbilo da peble ignara e delírio do seu séquito de canina fidelidade.
Desses maus exemplos a história do mundo está cheia. Através dos tempos tem sido assim, quem não sabe governar é sempre um usurpador. Por achar que é "hipocrisia" a imoralidade da farra aérea do Congresso Nacional, Lula se confessa apenas mais um néscio bancando o sábio. Não alcançou ao patamar dos sábios; chegou apenas ao estágio dos sabidos.